terça-feira, 13 de outubro de 2009

A Escuderia Le Cocq



A Scuderie Le Cocq foi criada para vingar a morte em serviço de Milton Le Cocq, famoso detetive de polícia do Estado do Rio de Janeiro e integrante da guarda pessoal de Getulio Vargas
Ele foi morto por Manuel Moreira, conhecido como "Cara de Cavalo", marginal que atuava na Favela do Esqueleto onde se encontra atualmente a UERJ , na década de 60.
A escuderia transformou-se em associação e chegou a reunir sete mil associados e admiradores. Seu objetivo era a repressão ao crime. O grupo era liderado pelos chamados Doze Homens de Ouro", entre os policiais escolhidos na força de elite da polícia pelo Secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, Luis França, para "limpar" a cidade.
Um dos primeiros integrantes selecionados foi Guilherme Godinho Ferreira, o Sivuca, que mais tarde se elegeu deputado estadual com o bordão "bandido bom é bandido morto", pelo qual ficou conhecido até falecer. Segundo o próprio Sivuca, "o grupo foi criado para dar satisfação à sociedade". Eram agentes especiais, bem treinados, corajosos e aplaudidos por terem eliminado alguns dos piores bandidos da época, a começar pelo "Cara de Cavalo" , depois "Mineirinho", Lucio Flavio e muitos bandidos famosos dos anos 50 e 60, que foram mortos em suas próprias comunidades. Zé Pretinho, por exemplo, foi assassinado na porta de seu barraco, no Morro dos Macacos, em Vila Isabel . Bidá morreu no Morro do Querosene, no Catumbi, e Passo Errado, no Morro do Tuiuti , em São Cristovão .
Seu presidente de honra foi o ex-delegado de polícia e deputado estadual Sivuca, do
PSC. Segundo ele, as iniciais "E.M." no brasão da Scuderie Le Cocq significam "Esquadrão dos Motociclistas", divisão à qual pertencia o detetive Milton Le Cocq, e que protegia o presidente Getulio Vargas , e não Esquadrão da Morte.
No Espirito Santo
Partes da história da temida Scuderie Detetive Le Cocq podem ser recuperadas em dois extensos relatórios da Polícia Civil do Espírito Santo. Com os documentos, o Jornal Correio montou a trajetória do grupo acusado de comandar a violência no estado nos últimos 20 anos
A grande casa com varanda em Bento Ferreira, bairro de classe média alta da capital capixaba, servia de ]cenário para o ritual. Ali, mais especificamente numa sala improvisada para a cerimônia, apenas a voz poderia identificar os escudeiros, todos cobertos por capuzes e túnicas pretas. O iniciado da noite era trazido pelo padrinho, prestava juramentos e entoava o hino da organização em frente à espada e ao crânio humano. A bizarra solenidade descrita acima foi contada e recontada por testemunhas. Partes da história da Scuderie Detetive Le Cocq, a responsável pela cerimônia de iniciação, podem ser recuperadas nos inquéritos e relatórios sobre os envolvimentos de policiais, jornalistas, magistrados, promotores e políticos com o crime organizado no Espírito Santo. A simbiose entre política e crime invadiu os principais municípios capixabas, deixou o cidadão comum desamparado, provocou a queda de Miguel Reale Júnior do comando do Ministério da Justiça e forçou o governo a enviar uma força-tarefa para combater a bandidagem no estado. A partir dos inquéritos e relatórios, o Correio montou a trajetória da Scuderie do início da última década de 80 até os dias de hoje. Os principais documentos são dois relatórios com mais de 200 páginas do delegado Francisco Badenes Júnior, que, em 1995, pediu ao Ministério Público Federal a dissolução da organização. Num dos textos, consta a definição do cientista político italiano Norberto Bobbio para terrorismo. Há uma retificação a ser feita, entretanto, em relação à Scuderie. Os escudeiros, no Espírito Santo, nunca atuaram de forma clandestina. A organização tem sede e registro em cartório. Meninos de rua O delegado Badenes, o primeiro a escarafunchar as entranhas da Scuderie, hoje está em silêncio, acolhido num programa de proteção a testemunhas. Em 1991, ele investigou, em Vitória, execuções sumárias de mais de 30 meninos de rua. Os cadáveres de crianças entre 10 e 14 anos eram expostos nas principais vias de acesso da capital. Invertendo a lógica criminal, os assassinos faziam questão de mostrar os corpos das vítimas. As mortes dos meninos tornavam-se mais freqüentes nos momentos em que a associação de policiais promovia greves. Com o aprofundamento das investigações, descobriu-se que os suspeitos dos crimes eram policiais e tinham algo em comum: todos eram associados a uma tal de Scuderie Detetive Le Cocq. Com os assassinatos dos meninos de rua, o então governador Albuíno Azeredo criou a Comissão de Processos Administrativos Especiais (CPAE) e Badenes acabou na chefia das investigações. As informações colhidas por Badenes serviram para indiciar integrantes da Scuderie no Espírito Santo. Na busca feita na sede da entidade, por exemplo, foram apreendidos fichários de sócios, atas de presença, coletes à prova de bala, uma réplica de crânio humano e chaveiros com o emblema da entidade — uma caveira com duas tíbias cruzadas e as iniciais ‘‘E.M’’, de Esquadrão da Morte. A partir da investigação, foi possível montar o organograma e os métodos de atuação da organização paramilitar. Métodos que se confundem com os usados pela máfia. No dia 5 de agosto de 1982,um grupo de bicheiros capixabas se reuniu para almoçar uma muqueca de peixe no restaurante da Enseada do Suá, em Vitória. Um dos convidados chegou atrasado e, com a desculpa de o carro apresentar um defeito, pediu o Dodge Dart do bicheiro Jonathas Bulamarques emprestado. Era uma cilada. O veículo foi devolvido antes do fim do almoço, mas trazia uma bomba armada. Depois de se despedir dos convidados, Bulamarques entrou no Dodge Dart, ligou o motor e o carro explodiu.

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