A cena de um crime contém muitos elementos que podem ajudar a contar a história de uma ocorrência e, muitas vezes, mostrar seus reais culpados. Até um inseto pode ajudar a elucidar um crime.
É isso o que, pela primeira vez, a Polícia Civil do Estado vai usar.
A chamada entomologia forense está começando a ser ensinada aos policiais paulistas e, no Interior, a região de Bauru é a primeira a ser treinada.
A entomologia forense é uma ciência aplicada que tenta determinar a data e até causas de morte de seres humanos através dos insetos que colonizam o cadáver. Vinte policiais da área do Deinter-4 (Departamento de Polícia Judiciária do Interior-4), cuja sede fica em Bauru, são treinados de quinta até sábado.
O delegado Licurgo Nunes Costa, diretor do Deinter-4, explica que participam policias diretamente ligados à investigação de homicídios. “Eles se tornarão multiplicadores dessa nova técnica. Nosso serviço de inteligência vai ser aprimorado numa área de quase dois milhões de habitantes”, diz. Segundo ele, a Polícia Civil da região vai passar a observar com mais cuidado a cena de um crime.‘São provas mais valiosas’O coordenador do curso de entomologia forense, o perito criminal Edilson Nakaza, afirma que as informações coletadas com os insetos têm valor de prova numa investigação criminal.
“São provas na maioria das vezes mais valiosas do que depoimentos, já que são evidências científicas”, conta.
Nesta sexta-feira os policiais civis de Bauru e região vão ter aulas com a maior autoridade em entomologia do país, a bióloga da Unicamp, Patricia Jacqueline Thyssen, e no sábado executarão parte práticas de coleta e análise de insetos e larvas em uma chácara da Polícia Civil.
No dia-a-dia, esse material será enviado para análise em centros de estudos da Unicamp (Universidade de Campinas) e Unesp (Universidade Estadual de São Paulo) de Rio Claro. O trabalho é um convênio entre a Secretaria de Segurança Pública e o Pronasci (Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania) por meio da Academia de Polícia do Estado. Segundo o delegado coordenador do núcleo de ensino do Deinter-4, Luís Henrique Casarini, estão previstos 13 cursos, inclusive DNA forense e identificação veicular.Aplicações são amplasAs aplicações da entomologia forense também são variadas. Além de determinar o período de tempo entre a morte e o descobrimento do cadáver com a análise de larvas e insetos, a técnica também pode ajudar no combate ao tráfico de drogas.
A maconha, por exemplo, contém vários fragmentos de insetos e de solo.
Com a sua identificação é possível descobrir a origem da droga, já que determinados insetos só existem em algumas áreas, como na Bolívia ou Nordeste.Em crimes ambientais, o conteúdo do estômago dos insetos mortos também pode ser estudado para descobrir os agrotóxicos ou substâncias químicas presentes na região.Em mortes difíceis de encontrar a causa, Edilson Nakaza também explica que os insetos podem auxiliar. “Moscas próximas do cadáver podem, por exemplo, ser recolhidas para procurar vestígios de cocaína e pólvora nelas”, explica.As moscas são, muitas vezes, as primeiras a estar no local de um homicídio. Elas preferem um cadáver úmido para as larvas se alimentarem. Já os besouros são geralmente encontrados nos cadáveres quando se encontram mais decompostos.Capitão é salvo da prisão por larvasEdilson Nakaza lembra um caso célebre na Hungria que tirou um capitão da Marinha da prisão. Nos anos 90, ele foi incriminado por supostamente ter matado um passageiro de seu barco. O militar chegou a ser condenado à prisão perpétua. Após oito anos de cadeia, o caso foi reaberto e foram analisados os vestígios do crime, entre eles as larvas que estavam no cadáver. Foi provado que a vítima foi morta um dia antes do capitão estar no barco.
Reinaldo ChavesAgência Bom Dia
segunda-feira, 12 de outubro de 2009
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